Quinta | 9 de Abril de 2020




Passei o dia inquieta. A ideia de fugir com Paulo não me saía da cabeça. Desde a última chamada, tudo dentro de mim oscilava entre a razão e o desejo, entre o medo e a liberdade.

Afinal, era uma loucura. Uma irresponsabilidade. Mas também… era a única coisa que fazia sentido.

O sol já se tinha posto quando o meu telemóvel tocou. Era ele. O meu coração disparou antes mesmo de atender a videochamada.

Olá — Disse , com a voz um pouco mais trémula do que esperava.

O Paulo sorriu, mas os seus olhos tinham uma intensidade diferente. Ele não queria mais rodeios.

Então? Já tomaste uma decisão?

Respirei fundo. Não queria responder de imediato. Queria olhar para ele, absorver cada detalhe do seu rosto naquele ecrã frio. O cabelo despenteado, a barba ligeiramente crescida, os olhos cheios de expectativa.

Passei o dia a pensar nisso."

E?

E… não sei.

Ele suspirou, recostando-se na cadeira.

Laura, eu preciso de ti. Nunca precisei tanto de alguém na minha vida como agora. Mas eu também preciso saber se tu queres mesmo isto. Se queres isto comigo.

O meu peito apertou. Claro que queria. Mas e se estivéssemos a cometer um erro?

Paulo, e se tudo correr mal? E se ficarmos presos em algum lugar? E se for perigoso? E se…

Ele interrompeu-me com um olhar firme.

E se for a melhor coisa que já fizemos?

Silêncio.

Senti uma onda de adrenalina tomar conta de mim. O medo lutava contra a vontade. A consciência contra o desejo.

Então, finalmente, sorri.

Quando vamos?

Paulo riu, um riso aliviado, quase nervoso.

Amanhã à noite. Eu trato de tudo. Só precisas de estar pronta.

O meu coração batia descontrolado. A decisão estava tomada. Sem volta atrás.

Eu vou.

E assim, o plano foi selado. Amanhã, fugiríamos juntos.


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