O céu ainda estava coberto de nuvens, a chuva tinha dado uma trégua, e a caravana estava em silêncio, exceto pelo som da nossa respiração. A viagem até ali foi uma mistura de adrenalina e liberdade, mas agora, ao estarmos parados no meio da natureza, com o vento suave a bater nas árvores, tudo parecia mais calmo, como se a vida tivesse ficado mais simples. Ali, naquele espaço apertado mas acolhedor da caravana, parecia que não estava a acontecer nada no mundo.
Eu estava sentada à mesa, com a cabeça encostada ao vidro da janela, observando a paisagem. O Paulo estava a preparar algo para comermos, mexia em panelas e ria baixinho ao pensar que estávamos longe de tudo, sem planos, e sem pressão. Uma sensação de paz invadia o ar.
Eu, sem tirar os olhos da paisagem, disse, ainda com o sorriso meio tímido:
— Sabes, estava a pensar... estamos mesmo a fazer isto, não é? Estamos a viver o que mais queríamos. Só nós dois, numa caravana, longe de tudo...
Ele olhou para mim com um sorriso que falava mais do que as palavras poderiam expressar.
— Sim, estamos. E sabes o que é mais louco? Estamos a fazer isto na maior das aventuras, e nem sequer sabemos o que nos espera.
Ri, a ideia de estar ali, sem preocupações, sem saber o que viria a seguir, trouxe-me um conforto que nunca imaginaria sentir. Tudo parecia mais intenso, mais real.
— Eu estava a pensar, Paulo. E se fizéssemos mais disto, assim... tipo, viagens surpresas? Em vez de planear, simplesmente pegar no carro e sair, sem destino. O que achas?
O Paulo, enquanto mexia a comida, olhou para mim, com um brilho nos olhos, claro que adorava a ideia.
— Acho incrível. Vamos, cada vez que sentirmos que precisamos, pegamos na caravana e saímos para qualquer lugar. Fim de semana no Gerês, na próxima, podemos ir em direção ao Algarve ou até subir ao Norte. Não precisamos de muito. Apenas a estrada e o céu.
Fiquei a pensar, imaginando as possibilidades. Era tudo o que eu queria. Algo espontâneo, sem regras, sem expectativas.
— Eu gosto disso. E, quem sabe, quando tudo isto acabar, fazer uma grande viagem. Largar tudo e ir… sem compromissos, só nós dois, uma caravana, e o mundo à nossa frente.
Ele deu um sorriso largo, visivelmente entusiasmado.
— Sim, imagina: sem pressa, sem datas. Viajamos como se não houvesse um amanhã. E no caminho, vamos fazendo o que quisermos: parar em pequenas vilas, tomar um café numa praça, ver o pôr do sol... Quem sabe até acampar.
Fiquei encantada com a ideia.
— Acho que nunca me senti tão livre como agora. E a ideia de sermos só nós dois, em qualquer lugar que escolhermos, sem medo do futuro. Simplesmente viver o agora.
Ele aproximou-se, colocou a mão na minha, sobre a mesa. O toque dele trouxe-me uma sensação de calma.
— É isso que eu mais quero, Laura. Vamos continuar a viver como estamos agora, sem nos preocuparmos com mais nada. Sem planos, sem regras. Só nós e a estrada.
Olhei para ele, sorri, e a ideia de estar com ele, sem mais ninguém, em qualquer lugar que escolhêssemos, parecia a coisa mais natural do mundo.
— Então é isso. Vamos. Sem pressa, sem preocupações. Vamos aproveitar cada quilómetro dessa estrada.
A sensação de liberdade, e de estar ali com ele, deixou-me leve. Era como se a caravana, o Gerês e a estrada fossem a metáfora perfeita para a nova vida que estávamos a começar a construir.
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