Cheguei ao restaurante, pedi uma mesa para mim, a rapariga olhou-me de cima a baixo e revirou os olhos de uma forma que tive de me controlar para não lhe arrancar as pestanas falsas com uma pinça. Meu deus, o que leva uma pessoa a ser assim!?
Olhei o menu, fiz o pedido com direito a mais um revirar de olhos. Enquanto observava todos os cantos do restaurante e aguardava o meu pedido, dou com uma cara conhecida.
"Meu deus o “Corredor”… mas este homem está em todo o lado agora!" — Disse envergonhada e com vontade de não ser descoberta. Mas decidi ficar atenta. Afinal de contas, não conheço nada dele.
Estava acompanhado, e bem acompanhado, por um mulherão. Estava de costas mas consegui perceber que era loura (tal como ele), atlética, alta e bem vistosa. A primeira coisa que me veio a cabeça foi "O que terá ele visto em mim!?" Tanto ele como o Fred, podem ter mulheres assim, como esta, e olharam para mim! Ainda não consigo perceber.
Tentei abstrair-me e não pensar mais no assunto. O jantar chegou, tinha pedido uma sopa miso e uns panados de seitan com salada e cuscuz. Tentei comer o mais rápido que consegui para não ser descoberta. Fiz sinal a pedir a conta e a rapariga das pestanas diz-me que tenho de pagar ao balcão à saída. Ainda assim, agradeci, e enquanto me dirigia ao balcão, senti uma mão a agarrar-me a cintura!
— Laura? Bem me parecia que eras tu!?
— Ah! Olá! Por aqui? — Disse a tentar parecer surpresa com a presença dele…
— Sim, vim conhecer o restaurante novo! Abriu há pouco tempo e ainda não tinha conseguido passar por cá… Como estás?
— Estou bem, com algum trabalho! Mas não me queixo, que venham muitos!
Entretanto na nossa direção a vistosa com ele estava aproxima-se.
— Ah Paulo, estás aí?! Fiquei preocupada! Cheguei à mesa e não estavas…
— Raquel, esta é a Laura, uma amiga minha!
— Olá Laura, muito gosto!
— Olá Raquel! — Encarei-o nos olhos. É preciso ter lata, estar com outra rapariga e apresentar-me assim, sem problemas.
— A Raquel é minha irmã e sócia deste restaurante! — Engoli em seco!
— Laura espero que tenhas gostado! Ainda estamos a tentar melhorar algumas coisas, mas acho que estamos no bom caminho.
— Sim, sim, parabéns a comida estava fantástica, deliciosa mesmo… Já cá tinha vindo e continua tudo muito bom — Entretanto ficou um silêncio constrangedor — Peço desculpa, mas ia agora pagar, tenho alguns trabalhos para finalizar ainda hoje e tenho muito que fazer para os enviar.
— Não, não! — Disse a Raquel a tirar-me a conta da mão, que nem tive a oportunidade de verificar, depois de me aperceber que o “corredor” estava no mesmo espaço que eu — Amigos do meu irmão são meus amigos, por isso, esta fica por minha conta. Espero ver-te mais vezes por aqui! — Deu-me um abraço apertado, um beijo e dirigiu-se para uma área só para o staff. Ainda tentei intervir, mas sem sucesso.
— Raquel, por favor, não há necessidade…
— Não te preocupes, não penses mais nisso, pagas o próximo — Entretanto voltou atrás — Desculpa mano, já me ia esquecendo de despedir de ti — Deu-lhe um beijo na bochecha e esfregou-lhe o topo da cabeça — Porta-te bem, juízo! — Ficamos os dois a vê-la desaparecer na porta.
Em silêncio, olhamo-nos durante uns segundos, que mais parecia uma eternidade, até que nos atropelamos com o que queríamos dizer.
— Desculpa, não, tu primeiro — Disse ele, com o seu cabelo desgrenhado.
Ele era tão lindo que não me cansava de olhar. Só a simplicidade dele, tornava tudo ainda mais bonito.
— Okay — Disse, ainda sem saber que palavras usar — Gostei de te ver! Estás óptimo! Desde ontem. — Ri de nervosa — Não estava a espera de te encontrar aqui… e muito menos de conhecer a tua irmã.
— Verdade! Muita coisa minha que ainda desconheces.
— Teremos tempo para isso, certamente! — Tentei esquivar-me novamente — Bom tenho de ir! — Aproximei-me dele para me despedir — O trabalho espera-me e não aparece feito! Mais uma vez gostei de te ver, diz algo para tomarmos um café — Dei-lhe um beijo na bochecha e ele retribuiu.
Aquele cheiro suave dele, cheiro a praia, a sal. Eu e os cheiros.
— Sim, digo-te mesmo, tens o meu número… diz-me quando estas disponível e combinamos. Quero estar contigo!
— Okay, beijos, fui — Caminhei em direção da porta e pelo reflexo da montra, vi-o ficar para trás sem tirar os olhos. Recebo um sinal de mensagem - “Saudades de te sentir” — Meu deus Laura, outra vez não, é que nem vais responder, olhei para dentro do restaurante e ele ainda me encarava, acenei e segui para casa.
No elevador volto a receber uma nova mensagem, desta vez era do Fred. "Queres fazer algo hoje?" Perguntava. Desde que aconteceu, o que aconteceu com o Paulo que o andava a evitar! Não sei bem porque, visto que não temos nada sério um com o outro, mas tenho andado de consciência pesada. Temos andado juntos e eu adoro estar com ele, é lindo de morrer, tem objetivos de vida, o sexo pfff nem se fala e faz-me surpresas maravilhosas. Mas o Paulo, tem qualquer coisa e não lhe estou a conseguir resistir. Entre os dois, o Paulo é muito mais o meu género de homem. Sempre foi com alguém assim que me via a ter um futuro. Passeios de caravana pelo mundo, praia, música e sexo, muito sexo.
Já não me bastava um, agora tenho dois, ao final de tantos anos. Mas o que é que estas alminhas viram em mim é que não consigo perceber. Não sou propriamente uma modelo da Vogue, até pelo contrário estou muito aquém disso. Estou em baixo de forma, roliça, não sou de andar maquiada e demasiado produzida! Porquê!?
"Oi, estou por casa, tenho imenso trabalho… queres passar por cá?" Respondi eu, sem grande vontade, mas não podia evitá-lo durante mais tempo “20 minutos e estou ai! Levo jantar!”.
Tomei um duche rápido, vesti algo confortável e assim que me sentei de novo ao computador, tocou a campainha! Perguntei pelo intercomunicador, e fico sem resposta… deve ter sido engano. Voltei ao computador e assim que abro o documento para começar a editar, voltou a tocar a campainha, mas desta vez era o som da campainha da porta de cima. Estranhei, o Fred ainda ia buscar jantar e só tinham passado 10 minutos, não podia ser já ele.
— Afinal não aguentas-te os 20 minutos e vieste a voar! — Disse em voz alta ao mesmo tempo que abri a porta. Gelei. — Paulo? O que fazes aqui?
— Não me respondeste e fiquei preocupado!
— Está tudo bem, estou em casa a trabalhar, tal como te tinha dito que vinha fazer! Na realidade ainda estou a pensar o que te responder.
— Posso entrar?
— Não leves a mal, mas estou a espera… — Nisto o Fred sai do elevador.
— Boa noite, algum problema?
— Não, Não, o Paulo veio só deixar-me umas fotos que vou precisar para um trabalho que tenho em mãos e como mora aqui perto, passou por cá — Abri-lhe os olhos, quase que implorando para ele alinhar na história que acabava de inventar.
— Sim, sim, pronto toma, tens aqui tudo o que precisas nesta pen, alguma coisa…
— Bem, então espero-te lá dentro, adeus Paulo, até a próxima. — Despediu-se Fred que entrou com o jantar.
— OKAY, eu vou já também — Olhei-o nos olhos e estava ainda surpreendido com o que acabava de acontecer.
— É o teu marido? O teu namorado? Não me ias dizer nada?
— Não tive oportunidade, sinto-me envergonhada, desculpa, não sei o que te dizer, mas foi mais forte que eu, nem eu sei explicar o que está a acontecer, espero ter oportunidade para isso.
— Ele sabe?
— Não!
— Então estamos os dois a ser enganados por ti?
— Paulo, por favor, não é nada disso que estas a pensar! Podemos falar depois? Dás-me oportunidade de te explicar tudo com calma?
— Não sei… diz-me tu? Achas que vale a pena o meu tempo?
— Claro que sim, por favor! Não quero que fiques chateado comigo por um mal-entendido.
— Ok, tens o meu número, é só dizeres quando e onde! Fica bem!
Fechei a porta e tentei perceber onde estava o Fred. Na cozinha estava já a mesa pronta para jantar, mal ele sabia que eu já tinha jantado. Ali estava ele a tomar banho, como se estivesse em casa dele.
— Está tudo bem? — Gritou, assim que se apercebeu da minha presença.
— Sim, está tudo bem — Deixei-me cair na cama, triste com tudo aquilo. Tinha ainda tanto trabalho pela frente e a vontade de lhe pegar era pouca ou nenhuma.
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