Sábado | 15 de Fevereiro de 2020




Foi um amanhecer calmo, com os raios suaves do sol a invadir o quarto, aquecendo as cortinas e criando sombras dançantes nas paredes. Nós ainda entre os lençóis, aconchegados um ao outro, com os corpos entrelaçados de forma natural. O silêncio quebrou apenas pelos sons tranquilos da manhã que começou a despertar lá fora.

Acordei primeiro, mas não me mexi. Apenas a observei enquanto ele ainda dormia, com um sorriso suave nos lábios. O modo como ele respira calmamente, a expressão de paz no rosto, faz com que o meu coração aqueça de um jeito simples e profundo. Inclinei-me lentamente, sem pressa, e dei-lhe um beijo suave na testa, tocando-lhe nos cabelos com carinho. Ele respirou fundo, e ao sentir o beijo, abriu os olhos lentamente, revelando o brilho que reflete todo o amor que sente.

Ele sorri, e eu respondi com um sorriso tímido, os nossos olhos encontram-se, e ali, naquele breve instante, tudo parecia perfeito. Não foi um despertar apressado, mas um momento de pura conexão, onde as palavras foram desnecessárias. Aproximei-me dele, encaixando-me nos seus braços, e ficamos ali os dois, no silêncio reconfortante, apenas a aproveitar a presença um do outro.

Ele tocou-me na face, com um toque leve, como se me estivesse a explorar pela primeira vez. Como se o nosso amor fosse algo novo a cada manhã. Envolveu-me num abraço apertado. Sentindo a suavidade da sua pele, e o calor que transmitia, sem pressa, dei-lhe um beijo nos lábios, mais intenso agora, com a promessa de mais um dia juntos.

Esta manhã não foi apenas sobre o despertar físico, mas sobre um reencontro silencioso de corações que se pertencem.

Ele preparava o café, enquanto eu arrumava o pequeno almoço na mesa de madeira rústica. O cheiro do pão quente e do café acabava por invadir o espaço, e criava uma atmosfera acolhedora e íntima. Apesar de não estamos sozinhos. Mas a Raquel e a Simone tinham saído bem cedo para andar a cavalo. Sentamo-nos à mesa juntos. Trocamos olhares cúmplices de mãos entrelaçadas.

Após tomarmos o pequeno almoço, decidimos dar um passeio pela herdade. Caminhamos pelo campo, entre as oliveiras e as vinhas. Falamos pouco, mas os sorrisos e os gestos diziam tudo. Peguei na mão dele e corri pela estrada de terra batida, e rimo-nos como se fossemos dois adolescentes.

A paisagem à nossa volta é deslumbrante, e a quietude do lugar permitia-nos que nos sentíssemos mais conectados.

O almoço foi simples, mas delicioso. Preparamo-lo juntos, um peixe no forno com uma salada fresca com ingredientes da horta.

Dormimos a sesta à sombra de uma árvore, com o som suave do vento e uma manta quente a envolver os nossos corpos. Por vezes, trocávamos uns beijos, sem pressas.

À tarde, depois do merecido descanso, aproveitamos para explorar mais a propriedade. Nada que ele já não conhecesse, mas queria partilhá-lo comigo. A natureza estava no seu melhor, com flores silvestres a desabrochar e o ar fresco que já se fazia sentir.

Quando o sol se começou a pôr, pintando o céu com tons laranja e rosa, preparamos o jantar, também ele simples! Ele preparou uma mesa na varanda e comemos à luz das velas, quando a noite começou a cair. Conversamos sobre os sonhos do futuro e sobre pequenas coisas que tornam a nossa vida tão especial. O tempo parecia ter parado, de tão especial que estava a ser este dia. Sentia-me completa com ele.

A mesa estava linda, impecavelmente posta, com a luz das velas a fazer sombras delicadas nos pratos e nas taças de vinho. Estávamos de frente um para o outro. Deslizei a ponta do dedo pela borda da taça de vinho, fixei os olhos nele e sorri, brincando com os lábios.

Fazes sempre isso! — Afirmou, arqueando a sobrancelha.

Isso o quê? — Respondi eu, inclinando ligeiramente a cabeça e fingindo-me inocente, enquanto levava mais um pedaço de comida à boca.

Ele inclinou-se para a frente, com os cotovelos apoiados na mesa, e a voz baixa o suficiente para ser um sussurro.

Provocares-me dessa maneira!

Ri-me, leve e melodicamente, enquanto mordia lentamente o garfo.

— Eu? Provocar-te? Deves estar a imaginar coisas.

Mas o brilho malicioso nos meus olhos desafiaram-no. Ele pegou a taça de vinho e deu um gole, mantendo o olhar fixo no meu.

Estendeu a mão sobre a mesa, os dedos roçavam nos meus. O toque era intencionalmente leve, como um convite.

Está a funcionar — Murmurou, com um sorriso formado nos lábios.

Corei levemente, mas não recuei. Em vez disso, decidi levar a conversa para o patamar seguinte.

Talvez sejas tu que não consigas resistir!

Peguei num morango, que estava ali numa tigela ao lado e com uma lentidão calculada, levei-o à boca. Ele apenas observava e os olhos escureciam com uma mistura de frustração e admiração.

Sorri, e quando o ia provocar novamente, uma voz estridente veio de trás de mim:

AI MEU DEUS!

Viramo-nos ao mesmo tempo, e ali estava a irmã dele, com uma expressão de pura surpresa e um sorriso descarado. Ao lado dela a Simone. BLECK.

Ele atrapalhado e completamente confuso.

Raquel? O que estás a fazer aqui?

— O que estou a fazer aqui? — Disse, puxando uma cadeira sem ser convidada. - A pergunta é: o que vocês estão aqui a fazer?

Raquel, a sério? — Sussurrou, desesperado, enquanto tentava manter a postura. — Estou no meio do meu jantar romântico com a Laura!

Ai, desculpa — Respondeu, com um riso. — Então és tu que vais ficar com o coração do meu irmãozinho?

Antes que ele pudesse intervir, a Simone, que estava também já sentada ao lado da Raquel, entrou na conversa:

Ai, finalmente!! Sabes quantas histórias essa aqui já me contou sobre o irmão? É como se ele fosse o super-herói da família!

Ele cobriu a cara com a mão, soltando um suspiro exasperado.

Raquel, sério, vocês não podem simplesmente…

Relaxa! — Interrompeu Raquel, enquanto tirava um pedaço de pão do cesto na mesa. — Não vamos ficar muito tempo, acho que bebi demais! Vamos regressar a Lisboa ainda esta noite!

Tentei disfarçar o riso com um gole de vinho, enquanto ele apenas balançava a cabeça, derrotado.

Pelo amor de deus, vocês não podiam ter ficado no anexo, têm lá tudo o que precisam!

Anexo? — Respondeu com um sorriso irónico — Já não havia pão no anexo.

A namorada deu-lhe um toque no ombro e riu.

Tá, acho que já atrapalhamos demais. Vamos deixar-vos aproveitarem. Laura, boa sorte com ele. Parece chato, mas, no fundo, é um amorzinho.

Elas afastaram-se, e depois de tudo o que tinha acabado de acontecer só memorizei as últimas palavras da Simone! O que queria ela dizer com aquilo?! Não vou estragar a minha noite e o resto do meu jantar, mas vou querer aprofundar mais o tema.

Ele olhou para mim, com uma expressão mista de constrangimento e resignação.

Desculpa por isto. Ela é…

Ri-me, peguei na taça de vinho e brindei com ele.

Ficou ainda mais interessante.

O jogo recomeçou, mais intenso do que nunca. Ambos sabíamos onde e como iríamos acabar a noite.


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