Segunda | 27 de Janeiro de 2020




Cheirava bem. Para além do cheiro a café, a casa tinha um cheiro particular, um cheiro doce a baunilha, sim era isso mesmo, cheirava a baunilha. Sorri.

Lá fora estava fresco mas ao sol estava bastante confortável e quentinho. Levantei-me e fui direta à casa de banho onde lavei pelo menos a cara e os dentes com um pouco de pasta. Dei um jeito ao cabelo, que estava uma lástima, porque não o cheguei a secar ontem quando sai do banho. Vesti uma t-shirt dele que estava ali largada, sem pedir autorização. Na cozinha, ele contava os minutos para tirar o pão quentinho do forno. A mesa estava posta para os dois, com ovos mexidos, fruta, café e sumo de laranja acabado de espremer. Um pequeno almoço digno de hotel. Ele estava bem-disposto!

— Bom dia!

— Bom dia, dormiste bem?

— Muito bem! E tu? Madrugaste? Alias para teres isto tudo feito, nem deves ter dormido.

— Não! Tenho as minhas rotinas e não consigo dormir assim que bate as 6h30, levanto-me e começo o dia. Vou correr, surfar, qualquer coisa! Só costumo tomar o pequeno almoço quando volto, mas como tenho companhia hoje, decidi fazer gazeta… depois logo apanho umas ondas!

— Paulo… sério! Não quero incomodar e mudar as tuas rotinas. Devias ter-me acordado, eu tinha ido à minha vida. Sério, assim fico a sentir-me mal!

— E perdia este despertar contigo, nem morto! Vamos, senta-te senão fica tudo frio! Queres ovos?

— Depois do trabalho que tiveste, claro que sim!

Enquanto me servia os ovos, a primeira coisa que me veio em mente foi que a ultima vez que isto me aconteceu, foi com o Fred, e acabei o pequeno almoço deitada no balcão da cozinha.

— Queres falar? — Perguntei.

— Sim, claro, queres falar sobre o quê? Queres contar-me esta história de me apareceres aqui a meio da noite de casaco só com roupa interior?! — Disse-me com um sorriso maroto.

Rimo-nos durante alguns minutos e gozamos com a situação.

— Eu sei que te magoei de alguma forma, nunca foi a minha intenção. — Disse a tentar mostra-lhe seriedade no discurso. — Gosto muito, mas quando digo muito, é muito de estar contigo. Gosto de saber que estas por perto! Sinto-me protegida contigo. Mas tenho o dom de estragar tudo. E tenho medo de te perder ou até mesmo magoar-te ainda mais. Compreendes onde quero chegar?!

— Desculpa, não te sentes protegida? Ele não te protege?!

— Com o Fred é diferente Paulo, já te expliquei, somos amigos, não temos nenhum compromisso, não somos exclusivo um do outro e isso é o que eu gosto nele. Estamos, quando estamos, fazemos planos para o agora e não para o futuro. E não temos nada em comum a não o sexo.

— Hum, entendo!

— Contigo é diferente, não sei explicar. Estou demasiado confortável contigo, parece que nos conhecemos há anos. Quando estás por perto, fico sem saber como reagir. Fico paralisada. Quando abro a boca estrago tudo, não me vem nada em mente.

— Não digas isso. Não fazia ideia que te sentias assim! Pareces sempre tão confiante.

— Eu sei o que quero, só que… lá está… tenho o dom de fazer tudo errado.

Ele aproximou-se, agarrou na minha cara e beijou-me. Um beijo calmo. Abraçou-me e voltou a repetir que tudo vai correr bem!

— Nem sabes o quanto essas palavras me deixam feliz Laura. Eu também gosto muito de estar contigo, apesar de só termos estado juntos naquele dia. O que sinto por ti, começou bem mais cedo. Começou desde o dia em que te perguntei as horas. O facto de me apareceres nessa mesma à noite no concerto e depois encontrarmo-nos no restaurante da minha irmã, foi só o sinal que eu precisava para avançar.

— Tens planos para este domingo? — Pensei eu em voz alta.

— Não porquê? Quer dizer, tenho um concerto, mas é só á noite!

— Perfeito! Tenho o babyshower do meu irmão! Gostavas de ir comigo?

— Tens a certeza? Por mim tudo bem, fico feliz pelo convite, mas tens a certeza?

— Claro que sim! Se não tivesse nem tinha falado no assunto.

O pequeno almoço estava maravilhoso. Conversa vem, conversa vai.

— O que vais fazer hoje? — Perguntou-me ele.

— Ainda não sei. Uma coisa é certa, tenho de ir a casa, não posso andar por ai de roupa interior!

— Por mim estás a vontade — Disse ele a rir.

— Ah, ainda gozas com a situação.

— Claro, tenho de aligeirar o ambiente, se soubesses o efeito que me estás a causar!

Olhei-o nos olhos. Passei a mão por baixo da mesa, até encontrar o que procurava.

— Laura, é melhor parares, senão... Vais ficar sem planos, de certeza absoluta.

— Porquê?

Ele não desviou o olhar, em momento algum, e quanto mais eu tocava, mais duro ele ficava.

Decidi faze-lo sofrer e parei. Levantei-me e comecei a tirar a loiça da mesa.

— Hum — Grunhiu ele.

Vesti umas roupas dele emprestadas e fui até casa. Antes disso, deu-me então as chaves suplentes, para eu lá ir trabalhar quando quisesse.

Já em casa, não notei nada mexido e percebo que deve ter sido coisas da minha imaginação. Estava tudo ainda recente e na realidade ainda tinha medo de voltar a enfrentar quem me magoou.

Tocaram à campainha, ao mesmo tempo que abria a porta para sair.

— Sim? — Perguntei pelo intercomunicador.

— Laura? É o Fred, posso subir?

Carreguei no botão para lhe abrir a porta e fiquei ali mesmo a espera que subisse.

Saiu do elevador, com um sorriso e um olhar intenso e profundo. Abraçou-me, perguntou-me como estava e deu-me um beijo.

— Estou bem! — Respondi. — Estava de saída, tenho um amigo que me emprestou a chave do estúdio dele, para poder continuar a trabalhar enquanto não tenho computador. Tenho muita coisa atrasada, e só quero despachar isto!

— Porreiro, queres boleia, eu levo-te?!

— Não deixa, levo o meu carro, não sei a que horas me despacho e assim estou mais à vontade com horários.

— De certeza que está tudo bem? — Perguntou.

— Sim tudo ok, porque é que estás sempre a perguntar isso?

— Acho-te distante, só isso!

— Não estou! — Disse-lhe e aproximei-me para lhe dar um beijo.

— Pronto! Queres combinar algo para logo? — Perguntou-me enquanto descíamos no elevador.

— Digo-te alguma coisa mais ao final do dia pode ser? Estou mesmo atrasada no trabalho e quero despachar o máximo que conseguir durante o dia de hoje! Se ainda conseguir ligo-te ok?

— Combinado — Mais um beijo — Adoro-te miúda!

— Beijoooo, até logo! — E entrei no carro.


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